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O avanço da doença gordurosa hepática não alcoólica

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Fonte: Medscape

A doença gordurosa hepática não alcoólica (DGHNA) avança em todo o mundo. Trata-se de um problema global em progressão. Como manejá-la? Quem é o paciente mais vulnerável? O tema foi abordado pelo Dr. Amélio Fernando Godoy Matos durante o simpósio “Nas Fronteiras da Obesidade” realizado no primeiro dia da edição virtual do Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (e-CBAEM 2021).”A denominação doença gordurosa hepática não alcoólica é antiga. O conceito recente tenta mudar a nomenclatura para doença hepática gordurosa metabólica”, explicou o Dr. Amélio, é endocrinologista do Serviço de Metabologia do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE), professor associado de pós-graduação em endocrinologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), doutor em fisiopatologia clínica e experimental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Em inglês, a sigla para a nova nomenclatura proposta por especialistas de 22 países é MAFLD (metabolic-dysfunction-associated fatty liver disease).

Por essa nova abordagem, pacientes adultos que têm esteatose hepática detectada de qualquer maneira, com sobrepeso, obesidade ou diabetes tipo 2 já recebem o diagnóstico. Se o indivíduo tiver peso normal ou for magro, há necessidade de preencher pelo menos dois critérios da síndrome metabólica clássica (p. ex., pré-diabetes, Homa IR ≥ 2,5 ou PCR aumentando).

“A presença de dois desses três fatores em pacientes com peso normal também leva ao diagnóstico de doença hepática gordurosa metabólica”, pontuou o Dr. Amélio.

De acordo com o Dr. Amélio, a doença acomete cerca de 43% dos pacientes com síndrome metabólica. No entanto, entre aqueles que se enquadram em quatro ou cinco critérios, a prevalência é ainda maior.

“A razão de chances de os pacientes com síndrome metabólica terem doença metabólica é 11,5, porém para aqueles que apresentarem cinco fatores de risco, a razão de chances vai para 37,6. Então, é uma doença típica da síndrome metabólica”, disse o professor.

O especialista reforçou que maioria dos pacientes evolui de maneira assintomática. “Embora o aumento da transaminase possa estar presente, não aparece na maior parte dos pacientes. Na população mundial, cerca de 25% dos pacientes têm esteatose; entre 10% e 20% evoluem para esteato-hepatite de alto risco, 5% evoluem para cirrose e 1% a 2% para adenocarcinoma hepático.”

Quanto ao aumento das transaminases, o Dr. Amélio fez um alerta: “Não esperem por isso. Notem que apenas um quarto dos pacientes com doença gordurosa hepática tem transaminase aumentada. Isso não é um fator diagnóstico importante, mas se tiver nos leva a procurar.

Perguntas feitas à plateia virtual pelo palestrante conferiram uma dinâmica especial à apresentação do Dr. Amélio. Uma das perguntas foi: Qual a maior causa de morbimortalidade na doença hepática gordurosa? As opções em múltipla escolha eram: cirrose, carcinoma, doença cardiovascular ou insuficiência renal.

“Precisamos entender que os nossos pacientes têm como maior desfecho a doença cardiovascular. Claro, porque são pacientes que na maioria das vezes têm síndrome metabólica ou obesidade. Então, a minoria evolui para hepatocarcinoma e cirrose. A insuficiência renal também é um desfecho”, disse o especialista. Dados de uma metanálise citada pelo Dr. Amélio (que associou tanto a presença de doença hepática gordurosa como a gravidade do quadro a risco de doença cardiovascular letal) indicam que o risco triplica nessa situação. “Para eventos não letais, o risco é 1,94 e no total, o grupo todo tem 2,58 vezes risco de doença cardiovascular”, observou o especialista.

O especialista também falou sobre como deve ser feita a avaliação da esteato-hepatite e da progressão da doença hepática gordurosa. Como avaliar? Segundo ele, de acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, das quais “fomos autores desse capítulo pela primeira vez”, disse o professor. “As recomendações são para diabetes tipo 2, mas grande parte das recomendações são as mesmas para a síndrome metabólica e a obesidade.”

As diretrizes recomendam rastreamento para doença hepática gordurosa em todos os pacientes adultos com diabetes tipo 1 ou 2. Em pessoas com diabetes e ultrassonografia abdominal sugestiva do problema e/ou aumento das transaminases, podem ser recomendadas a utilização de escores clínicos laboratoriais para ver o risco de fibrose avançada, exame de elastografia ultrassônica, ressonância ou biópsia hepática. O paciente que tiver esteato-hepatite ou fibrose deve ser orientado a realizar mudanças no estilo de vida, fazer uso de farmacoterapia específica ou ser encaminhado para um especialista.

Segundo o especialista, a elastografia hepática é o exame mais utilizado e mais validado. “É o único que mede a esteatose. Podemos utilizar outras metodologias, mas consideramos essa a mais interessante e que já nos deixa satisfeitos. Também podemos fazer qualquer outra imagem, claro, como a ressonância, porém eu acho importante fazer a elastografia”, ressaltou o Dr. Amélio.

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