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Acidez Urbana com o jornalista François Ramos

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Do período em que era conhecida como “Sertão da Farinha Podre”, termo cunhado por volta de 1807, à Uberaba do Século XXI, um longo caminho precisou ser percorrido para que a nossa cidade se tornasse uma das mais importantes do estado de Minas Gerais. Neste período, vários homens e mulheres dedicaram suas vidas a trabalhar pelo desenvolvimento daquela que também é conhecida como a Terra do Zebu.

Ao longo de sua história muitos foram os presidentes que reconheceram a grandeza de Uberaba e de sua gente, dentre eles ícones como Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas. A cidade também já ofereceu ao Brasil muitos deputados e outras lideranças políticas. Aliás, daqui surgiram, em passado recente, dois ministros: Anderson Adauto (Transportes, com Lula) e Marcos Montes (Agricultura, com Bolsonaro).

De 2020 para cá, verifica-se a instauração de um ciclo de renovação, um fenômeno que não se via desde o governo de Hugo Rodrigues da Cunha, que impulsionou vários “novatos” para cargos legislativos e ajudou a forjar quatro chefes para o Poder Executivo municipal: Luiz Guaritá Neto, Marcos Montes Cordeiro, Paulo Piau Nogueira e Anderson Adauto (este último na oposição).

A experiência de quem dominou a política de Uberaba da segunda metade dos anos 80 até 2020, hoje convive com o arrojo dos mais jovens. A coluna Acidez Urbana de hoje, entrevista mais uma destas novas lideranças. Seu nome? Edcarlo dos Santos Carneiro, mas talvez você o conheça desde os tempos em que ele era chamado de Kaká Se Liga. Agora, mais maduro, Kaká Carneiro.

                                   Foto: Marise Romano

François Ramos (FR) – Quem é Kaká de Carneiro? Nos conte um pouco sobre você.

Kaká Carneiro (KC) – Kaká é o filho do Edmur e da Vera; irmão e pai do Juju. Uberabense com muito orgulho e amor! Um cara que sonhou em ser jogador de futebol e foi atrás desta realização aos 16 anos. Joguei por times como o União São João, de Araras; Universidad do Chile, Atlético-MG e América-MG, mas, a saudade gritou alto e voltei para a minha família. Então, precisei de um novo projeto: cursei Administração de Empresas, na FCETM. Fiz pós na mesma faculdade e anos depois me tornei professor da instituição. Uma nova fase da minha vida se iniciou quando, aos 22 anos fui convidado para fazer um programa de TV, era o Se Liga, uma oportunidade que abracei de pronto e que alavancou minha popularidade. Ganhei a atenção de toda a cidade, inclusive das lideranças e partidos políticos. Resolvi então colocar meu nome e minha disposição para o trabalho a serviço da vida pública, porém, antes participar das urnas pela primeira vez, também trabalhei como bancário. Em 2008, não consegui me eleger, mas sai da eleição vitorioso, pois ganhei, além dos 1.627 votos que me foram confiados pelos uberabenses, mais maturidade e respeito. Já em 2009 fui convidado pelo ex-prefeito Anderson Adauto para ser diretor na Fundação Cultural de Uberaba. Em 2012, o sonho se realizou, fui eleito vereador com 3.966 votos, sendo o quarto mais bem votado a época. O trabalho que desenvolvi credenciou à reeleição em 2016. Em 2020, após meu nome sair em várias pesquisas de intenção de voto, me tornei candidato a vice prefeito compondo chapa com Thiago Mariscal. Não fomos eleitos, mas tivemos quase 18 mil votos. Desde então, estou fora da vida pública, me dedicando a vários empreendimentos na iniciativa privada.

FR – Você já ocupou uma cadeira na Câmara Municipal de Vereadores nas legislaturas de 2012-2016 (3.966 votos) e 2016-2020 (3.510 votos). Em 2020, foi candidato a vice-prefeito e atualmente é considerado uma das novas lideranças políticas de Uberaba. Essa condição chega acompanhada de responsabilidade? Por quê?

KC – Sim, muita responsabilidade, porque as pessoas, a cidade e meus eleitores já me conhecem, sabem da minha competência, da minha capacidade e amor pela vida pública. Portanto, a minha participação no processo eleitoral em 2024 virá com cobranças, responsabilidades e com esperança. Entendo que posso contribuir muito com minha cidade ainda, e estou disposto a isso, muito motivado!

FR – Em 2020 você concorreu ao cargo de vice-prefeito na chapa encabeçada por Thiago Mariscal. Juntos vocês obtiveram 17.705 votos, o que corresponde a 11,76%. Você diria que esse resultado demonstra a disposição do eleitor para uma proposta de renovação política na cidade?

KC – Sim, essa renovação não veio com Mariscal e eu, mas veio com a atual prefeita Elisa, que era nova na política, e, como nós, também significava uma renovação no processo político em Uberaba. Se a população está satisfeita ou não com essa renovação que aconteceu com a Elisa já não sei, mas a alternância no poder Executivo foi importante, sempre será. Não tenho dúvidas! Mas, se o eleitor não estiver satisfeito com a renovação que aconteceu em 2020, pode acontecer o inverso em 2024, com retorno de lideranças políticas já conhecidas em nossa cidade. Nas urnas o voto demonstrará o sentimento do eleitor!

FR – Somente de 2021 para 2022 o número de pessoas em situação de extrema pobreza cresceu 77% em Uberaba. Dados do Cadastro Único de benefícios do Governo Federal indicam que hoje são 17,8 mil famílias vivendo com 1/4 do salário mínimo de renda per capita. Nada menos que 59,3 mil uberabenses vivem com menos de R$ 650 por mês. Se chegasse ao Poder Executivo, o que você faria para mudar essa realidade?

KC – Sem o pacto federativo não dá pra mudar muita coisa do atual cenário econômico. Se a Prefeitura tivesse recursos suficientes para fornecer e dar melhor condição de vida a essas pessoas seria maravilhoso, mas sem a parceria com governo estadual para trazer benefícios também, não acredito que a que o município consiga arcar sozinho com os investimentos necessários para mudar esse cenário. A participação efetiva do governo federal no processo necessário para assegurar mais dignidade às pessoas, é outra necessidade, pois precisa destinar recursos para desenvolver e aplicar os programas sociais que a cidade necessita, como por exemplo, o “Minha casa, minha vida”, e alguns outros programas sociais que o CRAS atua como agente facilitador, “Bolsa-família” etc. Porém, é preciso lembrar que somente conseguiremos mudar a vida das pessoas com desenvolvimento econômico, gerando empregos, renda, dando oportunidades a essas pessoas de cresceram. Aprender a pescar com dignidade é o que as pessoas querem. Elas querem oportunidades para trabalhar! É nisso que nós agentes públicos devemos nos concentrar. Temos uma tarefa a fazer pra mudar esse cenário, somente uma: buscar indústrias e empresas com alta capacidade produtiva para gerar empregos para nossa população. O resto me desculpa, é enxugar gelo, resolve hoje, mas amanhã tem o mesmo problema.

FR – Levantamento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Seds), realizado este ano, apontou que Uberaba tem 278 pessoas em situação de rua. Os semáforos da cidade, especialmente em áreas de grande movimento, estão repletos de pedintes. Como reverter essa triste realidade social?

KC – Essa culpa não é de Uberaba, acredito que mais de 80% dessas pessoas vem de fora. São enviados por prefeitos de outras cidades, regiões do Brasil, e chegam até mesmo de outros países. Contudo, é inquestionável que se tornou um grave problema social para a cidade. Sinceramente não vejo como mudar esse cenário, porque grande parte dessas pessoas não querem abrigos, não querem empregos, e não querem tentar mudar a situação atual delas. Uberaba, tem hoje, uma estrutura que daria pra ajudar a amenizar esse problema, mas infelizmente a Prefeitura não consegue isso sozinha. Essa situação tem que ser resolvida de braços dados com a sociedade e com a forças policiais, além, é claro, do imprescindível apoio das instituições sem fins lucrativos e da iniciativa privada, esta última para gerar emprego.

FR – Outro grave problema social de Uberaba é a violência doméstica. Os números de medidas protetivas expedidas em Uberaba continuam crescentes à medida em que também aumenta a preocupação com o enfrentamento da violência contra a mulher. Como reverter esse quadro?

KC – É um caso de polícia: bateu em mulher tem que ir preso e ponto final. O poder público tem que atuar para antecipar isso. Se a mulher denunciar antes, em órgãos como o CIM (Centro Integrado da Mulher) ou o CAISM (Centro de Atendimento Integral à Saúde da Mulher), por exemplo, facilita o enfrentamento. Eu acredito que esse problema está no comportamento das pessoas, e muitas vezes o poder público não sabe o que acontece na vida delas, porém, se a mulher denunciar, o poder público tem como entrar com profissionais para cuidar da saúde física, mental e psicológica da vítima, dando total apoio. A polícia, por sua vez, faz o seu trabalho de segurança pública.

FR – O Rotary Club Rural de Santa Rosa está desenvolvendo um projeto de empoderamento de meninas por intermédio do Futebol Feminino. No residencial Rio de Janeiro, o Projeto Esporte e Vida ensina Jiu-Jitsu gratuitamente para crianças e adolescentes. O poder público deve incentivar iniciativas como estas? Você acredita que Uberaba pode transformar o esporte em uma ferramenta concreta de inclusão?

KC – A começar pelo orçamento da Prefeitura, sim. Porém hoje a realidade é outra, orçamento da Funel é o menor de todas as secretarias ou segundo pior, ou seja, se não há recursos, não há políticas públicas para expandir projetos como esses, em que o Rotary Santa Rosa e outras pessoas e instituições, fazem o que o poder público deveria fazer. Esporte é inclusão, agenda positiva, quanto mais se investe em esporte, menos despesas o município tem com saúde, mas, se o poder público não tiver olhos para executar isso, vamos continuar amadores no esporte. Pra transformar uma cidade do porte de Uberaba, o esporte precisa de investimento, porém, com o orçamento que foi endereçado ao setor na Lei de Orçamento Anual (LOA) para 2024, pode-se ter certeza que não será agora que a cidade se tornará capaz de revelar atletas para o esporte nacional. Parabéns ao Rotary Santa Rosa e a todos aqueles que incentivam o esporte na cidade.

                              Foto: Marise Romano


FR – Nos setores comercial, mercado imobiliário e saúde, Uberaba ficou fora do ranking na edição 2023 das 100 Melhores Cidades para Fazer Negócio, da Urban Systems, produzida para a Revista Exame. No estudo, que considera uma série de informações baseadas na estimativa da população e no cruzamento de dados tendo base na projeção de crescimento do município, a melhor posição da “Terra do Zebu” foi um 19º lugar em agronegócio, o que a deixou atrás, por exemplo, de Patrocínio (7º) e Araguari (15º). É possível tornar a cidade mais atrativa para investimentos?

KC – Temos que derrubar aquele pensamento: “Uberaba é boa pra se morar, mas ruim pra se ganhar dinheiro”. Infelizmente, ainda somos provincianos e conservadores em se tratando de Business. Porém, temos coisas boas: o agro é a porta de entrada de Uberaba, além da soja, pecuária, temos o maior plantio de cana do Brasil, e a tendência de Uberaba no agro é crescer. Temos também o parque tecnológico e o fantástico centro de inovação, com grandes oportunidades de atrair investidores ligados, principalmente à tecnologia. A cidade é forte na indústria e na agroindústria. Acredito que se o gasoduto sair do papel, a ZPE, e o aeroporto de cargas, o município dará um salto em termos de grandes investimentos, e, consequentemente, na geração de oportunidades para o verdadeiro desenvolvimento, de forma macro, onde toda a cidade cresce, e não tão apenas um segmento. Precisamos de crescimento macro no comércio, na prestação de serviços. Nós crescemos muito nos últimos anos, mas ainda temos a sensação de que estamos parados no mesmo lugar quando olhamos para a nossa vizinha Uberlândia, por exemplo. Pra tirar essa sensação precisamos de grandes investimentos, capazes de impactar de forma significativa a entrada de recursos para a cidade e para a nossa gente, além de proporcionar o crescimento da receita tributária do município. Aliás, aqui temos grandes empresas hoje que possuem endereços fiscais fora de Uberaba, isso precisa acabar. Temos que sair do lugar urgentemente!

FR – As eleições municipais de 2024 estão se aproximando. Sua história na Câmara de Vereadores e a expressiva votação que sua chapa obteve nas eleições municipais de 2020, o credenciam a condição de prefeitável? Você concorrerá à chefia do Executivo no ano que vem?

KC – Eu tive 8 anos de mandato atuante como Vereador, mais 3 anos ocupando um cargo no executivo, como diretor na Fundação Cultural de Uberaba (FCU). Hoje me sinto muito preparado para ser Prefeito, ou ocupar qualquer cargo público. Conheço toda cidade, sei dos gargalos e das dificuldades, mas também tenho propostas e soluções. A começar, precisamos desburocratizar a péssima prestação de serviço da Prefeitura para a população e acelerar o atendimento das demandas. A cidade precisa ser dividida por regiões, pois, temos mais de 200 bairros, distritos e comunidades rurais, entretanto, Uberaba é administrada da mesma forma que faziam os prefeitos da década de 80. Não evoluímos neste sentido. Acredito que está na hora da cidade ter como Prefeito um Administrador de formação profissional. Uma pessoa capaz de modernizar a gestão. Portanto, considero que estou pronto e não vou fugir da minha responsabilidade como homem público! Mas, também entendo, que hoje eu preciso recomeçar minha carreira política, e isso significa dar um passo para trás para dar dois passos à frente futuramente. Por isso eu estou optando por ser candidato a Vereador, voltar a ocupar uma cadeira no Legislativo com apoio da população, com apoio dos meus eleitores, passarei de vereador a prefeito, meu objetivo é esse. Se a população entender assim, estou pronto para servir e ajudar no desenvolvimento, e, no progresso que nossa cidade precisa ter para evoluirmos de fato. Mas se meu partido, e a população, entenderem que devo ser candidato a prefeito, que posso ser uma opção, estou pronto e sou um soldado apto pra guerra.

FR – Tony Carlos, Paulo Piau e Franco Cartafina já anunciaram que caminham juntos na disputa pela Prefeitura. Anderson Adauto também já colocou seu nome a disposição. Seu nome recentemente apareceu como um possível aliado de Elisa Araújo, que concorrerá à reeleição. Kaká Carneiro já definiu seu futuro?

KC – Não defini meu futuro em se tratando de grupo político. Estou dialogando, conversando com alguns partidos. Não quero citar nomes nesse momento porque na política quanto menos você falar melhor é, mas tenho tido boas conversas. No momento certo vou me posicionar publicamente sobre o caminho que vou seguir, e se o nosso nome estará à disposição do Legislativo ou Executivo. Mas uma certeza a população pode ter, eu estarei participando ativamente das eleições em 2024, como candidato, para ajudar no desenvolvimento de Uberaba!!!

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