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Acidez Urbana – Jorn. François Ramos

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Bondade
Após mais de 20 anos de seu falecimento, o médium Francisco Cândido Xavier continua sendo um dos nomes mais expressivos da história de Uberaba. Mais que isso, sua memória continua viva e capaz de promover o bem. Talvez porque, como disse, em 2010, o padre José Lourenço da Silva Júnior, que hoje integra a Igreja Católica Apostólica Brasileira, “Chico Xavier exalava amor, era extremamente humano em suas palavras e em suas ações”.


Alma presente
Quem, assim como eu, passa várias vezes ao dia pela Praça Rui Barbosa, dificilmente encontrará a estátua de Chico Xavier sozinha. Tem sempre alguém por ali. Numerosos são aqueles que deixam flores e bilhetes. Outros acariciam sua face. Alguns colocam a mão em seu ombro e o beijam. Muitos são os que se sentam para pedir ajuda, buscar amparo ou até mesmo desabafar. Parece que seu trabalho continua, mesmo após sua partida terrena.

     Foto: François Ramos/2023


Triste
Difícil imaginar como alguém com uma vida tão turbulenta e sofrida se tornaria uma pessoa que, mesmo após sua morte, transborda amor, carinho, afeto e solidariedade. Nascido em Pedro Leopoldo, no dia 2 de abril de 1910, com apenas quatro anos ele já via espíritos e se comunicava com eles. Francisco Cândido Xavier era filho de um trabalhador humilde, João Cândido Xavier, e de uma dona de casa católica, Maria João de Deus. Contudo, a perda precoce de sua genitora determinou que ele fosse criado pela madrinha, Rita de Cássia, uma pessoa que, apesar de amiga de sua mãe, se mostrou sempre cruel com o menino.


Humilhação
A madrinha daquele que um dia seria mais conhecido como Chico Xavier, o submetia a várias formas de violência. A guardiã chegou a vestir o infante de menina, aplicava-lhe surras diariamente, a qualquer pretexto e, não hesitou fazer com que ele lambesse as feridas de outro filho adotivo, Moacir, durante três semanas seguindo a recomendação de uma benzedeira que lhe assegurou ser a cura certa.


Sofrimento
Apesar de sua afinidade com a simpatia que lhe fora apresentada, e que, com a ajuda da espiritualidade “funcionou”, Rita de Cássia prosseguiu com as agressões físicas ao pequeno Chico, o que passou a justificar com a alegação de que o “menino tinha o diabo no corpo”. Esse tormento só teria fim quando seu pai se casou com dona Cidália Batista, uma mulher que é invariavelmente retratada como uma pessoa “generosa” e de “grande coração”.


Amor
Cidália foi fundamental para que João Cândido Xavier pudesse reunir novamente os nove filhos que teve com Maria. Ela também daria a Chico mais seis irmãos e, o que mais lhe faltava: afeto. A madrasta nutria um grande carinho pela criança, que na época estava tendo seus primeiros contatos com os espíritos. Aliás, mesmo sem compreender o que acontecia com o menino ela sempre lhe apoiou nos momentos difíceis e reforçava que um dia tudo seria esclarecido.


Caminho
O pai de Chico não concordava. Chegou a pensar em interná-lo. Porém, o padre Scarzelli examinou a criança e afirmou que isso seria um erro, pois tudo não passava de “fantasias de menino”. Ambos estavam errados! Francisco Cândido Xavier, apesar de católico e das incontáveis penitências e contrições prescritas pelo religioso, em breve se tornaria uma das maiores referências paranormais de todo o mundo.


Outra vez
Mas antes que isso acontecesse, em abril de 1931, Chico Xavier sofreria uma nova perda. Cidália Batista Xavier, de quem recebeu amor e compreensão, faleceu após o agravamento de uma pneumonia. Aquela por ele considerada uma segunda mãe, foi quem lhe concedeu o amparo, o carinho e o companheirismo para que não desanimasse.


Jornada
Apesar do primeiro contato de Chico Xavier com a Doutrina Espírita acontecer por volta de 1927, oportunidade em que começou a desenvolver sua mediunidade, foi no ano da perda de sua “segunda mãe” (1931), como ele mesmo costumava dizer, que ele encontrou seu mentor espiritual, Emmanuel, à sombra de uma árvore, na beira de uma represa e recebeu a missão de psicografar uma série de trinta livros. Emmanuel lhe exigiu o cumprimento de três condições: “disciplina”, “disciplina” e “disciplina”. Severo e firme em suas convicções, ele lhe instruiu, ainda, a manter-se fiel a Jesus e a Kardec, mesmo em caso de conflito com a sua orientação.


Jornalismo
À medida que seu trabalho ganhava visibilidade e respeito, cresciam as filas diante do Centro Espírita Luiz Gonzaga e os problemas do médium com a Igreja e a população católica de Pedro Leopoldo. O interesse da imprensa por Chico Xavier só fez aumentar a procura pelo trabalho do médium. Seja nas sessões espíritas das quais participava, ou em sua casa, o que lhe rendeu conflitos com a sua família, que alegava estar sua atividade lhes tirando o sossego, era intenso o movimento de populares que desejavam receber conselhos, cura para doenças ou contato com algum familiar já falecido.

    Foto: Reprodução/juventudeespirita.com.br


Transferência
Em 1958, Chico Xavier se muda para Uberaba e começa com a cidade uma relação caracterizada pelo amor recíproco, sempre evidenciado pelo médium em suas manifestações públicas. Não tardou para que o município se tornasse um centro de peregrinação: caravanas passaram a chegar diariamente, motivadas em especial pela esperança de conseguir contato com parentes falecidos por intermédio de sua psicografia.


Internacional
O trabalho realizado por Chico Xavier em Uberaba despertou o interesse internacional. O médium chegou a visitar a América do Norte e a Europa promovendo a divulgação do espiritismo. Na década de 1970, o espírita participou de programas de televisão, com grande audiência, entre eles o Pinga-Fogo, da antiga TV Tupi, onde o sucesso de audiência do primeiro programa levou o entrevistador Saulo Gomes a convidá-lo para retornar menos de cinco meses depois.


Doação
Ao longo de sua vida Chico Xavier psicografou mais de 450 livros e sempre doou os direitos autorais para de suas obras, pois segundo ele pertenciam à espiritualidade. Sua vasta produção psicográfica inclusive lhe rendeu problemas jurídicos. Em 1944, ação contra ele foi ajuizada pela viúva do escritor Humberto de Campos. A sentença do Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz do caso, foi clara no sentido de que a existência da pessoa natural termina com a morte, logo com ela se extinguem também todos os direitos e, bem assim, a capacidade jurídica de os adquirir.


Obras sociais
Apesar de toda a riqueza compreendida no trabalho desenvolvido por Chico Xavier, talvez um dos mais marcantes para a população de Uberaba, em especial para aqueles que sentiram na pele as mazelas da miséria nos anos 70 e 80, repousa em suas obras sociais. Com a chegada do final de ano, retornam nítidas minhas memórias sobre as filas (foto) que se organizavam para a ação de Natal promovida pelo médium Chico Xavier. Todos os anos, eram distribuídos por ele e seus colaboradores da comunidade espírita alimentos, roupas e brinquedos.

   Foto: Paulo Nogueira/https://www.facebook.com/UberabaemFotos/photos/

Partida
Chico Xavier faleceu em 30 de junho de 2002, aos 92 anos de idade. Exatamente como seu mentor, Emmanuel, havia lhe antecipado, seu desencarne aconteceu no dia em que a seleção brasileira de futebol foi pentacampeã da Copa do Mundo, “um dia em que todos estariam felizes”.

Legado
Uberaba perdia assim, há mais de vinte anos, a presença física daquele que fez de sua via um símbolo de amor, caridade, empatia pelo sofrimento do próximo e, acima de tudo, de esperança em um futuro melhor. Contudo, seu legado segue vivo no coração e na memória do povo. Que Deus siga iluminando os passos de Chico Xavier, agora na espiritualidade.


Frase
“Uberaba tem uma religiosidade muito forte e presente na vida das pessoas. Seja espiritismo ou catolicismo, todos nós somos cristãos e é isso que sempre vai nos unir”.
(Padre José Lourenço da Silva Júnior)

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